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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Desapropriação
E quando dei por mim tu estavas fazendo aceiros e fincando estacas a demarcar espaços no meu coração.
Chegou sem nenhum aviso. Ignorou completamente todas as placas de “É proibido”. Adentrou e se instalou. Classificando sentimentos, monopolizou o amor.
Apossado. Editou leis estapafúrdias, decretos ditatoriais, portarias escravocratas e ordens de serviço de toda ordem. Com bravura, impôs limites, proibiu a caça, a pesca. Fixou placa de “propriedade particular”. 
Ocupou todos os pontos cardeais. Fez da área um grande latifúndio. Edificou casa, mil janelas, no lugar mais nobre. Escreveu endereço em placa de cobre e pendurou na cancela.
Percebeu todos os mananciais que antes banhavam minhas entrâncias cordianas e que foram assoreados por falsos amores. Recuperou riachos, mansos regatos, cachoeiras, rios e mares. Fez reflorestamentos, exterminou erosões e trouxe de volta os passarinhos.
Mestre em agronomia, fez uso de técnicas de hidroponia, irrigou trechos áridos e, assim, transformou ares e hectares.
 Nos vastos jardins, sem uso de agrotóxicos, exterminou ervas daninhas, cultivou amor agarradinho, amor-perfeito, bromélias, margaridas. E na quinta muitos pés de ata, só porque sabia ser minha fruta preferida.
Eu de cá só observava você mudar as paisagens; vi abrir estradas vicinais que te levavam para os mais recônditos recantos; vi formar jardins coloridos e perfumados às margens de lagos de águas cristalinas, vi recuperar bosques...
Nada fiz para impedir seus avanços. Hipnotizou-me o mar verde-azulado represado em teus olhos, mistura de céu e floresta. Não tive forças pra resistir à tua beleza, teu entusiasmo, enfim... Entreguei-me.
Vamos ver no que dá.

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