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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Meu silêncio (José Maria Alves Nunes)

O silencio que faço
é de puro espanto,
de desencanto,
e enorme desapontamento.
Sabe esse descompasso,
hora a pressa,
hora essa angustiante lentidão?
é de tristeza, incredulidade,
e decepção.
Desprezo
Que um dia,
meu corpo inerte, sob a lápide fria,
seja banquete de vermes,
os legítimos.
Enquanto vivo,
dispenso aos pretensos,
meu desprezo.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Mosaicos

(José Maria Alves Nunes)

E de repente, mais uma vez,

o coração perde o prumo

o rumo

e deixa-se levar

É o amor que, de um salto,

toma-o de assalto

o faz de gato e sapato

e depois me devolve só os pedaços

eu que me vire pra juntar os cacos.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Desnorteado

De repente
vem um anjo caído
e toca meus ombros.
Acordo
e me assombro.
Perdido entre escombros
Não acho saída.
Amor presumido

Um dia ainda saberei
Das coisas do amor.
Saberei do fogo
Do gozo
E da morte.
Por fim
Saberei se azar ou sorte
tem quem nunca o encontrou

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Sejam bem-vindos!
Espero que meus escritos possam lhes causar alguma emoção.
Obrigado pela visita. Voltem sempre.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Mutações
    (Para Maguinólia Galvão)

Ao longo da estrada
Entre um e outro aperreio
Fui acrescentando bugigangas ao meu fardo
Até não mais suportá-lo.
Era um rol sem fim
Coisas abstratas, e concretas
Que iam da insegurança em relação ao futuro
a uma medalhinha de metal barato
Presente de meu primeiro amor
Depois, a duras penas, percebi o quão inútil era
A maioria delas
E fui deixando-as pelo caminho.
No princípio, sofri um pouco
Diante da drástica medida
Algumas lágrimas foram inevitáveis
Mas com o tempo acostumei-me com a leveza
Hoje, além do extremamente necessário, só carrego no fardo
Aquilo que a mim se incorpora
Sem me exigir maiores esforços
Revelações

Sou feliz
Mas tenho vazios
Vazios que ainda nem sei
Ao que se destinam, e se resguardam,
Apenas sinto
E quando isso acontece
Não existe vazio, preenchido do que seja,
Capaz de amenizar as conseqüências
São como doenças sem diagnósticos
Que só o tempo é capaz de curar

sábado, 10 de setembro de 2011

Por vir

Ao certo, nem sei o seu nome
Mas já me consome
Um calor intenso, uma ardência
Algo tão indecente,
e incontrolado
Que chego a pedir clemência
Antes de me darem a penitência
Para a purgação do meu pecado

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Nós

Você, essa manhã fagueira,
Nascendo.
Eu a tarde caindo
Quase anoitecendo
Tudo tão desigual
incompatível
mas o desejo insiste,
impetuoso, sem sentidos:
surdo, mudo
nos atrai como imã
ignora tudo

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Meus queridos amigos,
Feliz da vida, informo a todos vocês que o meu livro "Raízes e Colheitas" encontra-se exposto à venda nas seguintes livrarias do Rio e Região Metropolitana:

livraria - eldorado - tijuca - (21)2569-4747
livraria - romanceiro - Niteroi - 21.2719-1116
...livraria do café - shopping da Gavea - 21.2249.3558
Livraria - Gutenberg -Icarai - 21.2714.1727
livraria - Gutenberg - Shopping Boulevard - SG
Livraria da uff - Praia de icarai - http://www.editora.uff.br/ - 21.2629.5293

Quem puder me ajudar na divulgação, ficarei imensamente grato.
Beijos e abraços

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Protesto

Canto, palavra tão sublime,
não deveria rimar com pranto
Assim como alumbramento
Com sofrimento.
Imagina!
Coisa mais sem graça
Dor rimar com amor!?
Mas, façamos a vida rimar com alegria,
e nenhuma outra rima
reinará acima.

sábado, 30 de julho de 2011

Como eu te quero

Eu quero você.
Quer você goste ou não.
E daí?
Acaso é proibido te querer?
Quero você, e isso não me dói
Tampouco me corrói
Porque me satisfaço
Com o que tenho ao alcance
Embora nunca me canse
De querer mais e mais.
Quero você
E isso não me adoece
Porque o meu querer só cresce
à medida que se sacia.
Não é um querer,
Digamos  assim...
Sem cabresto,
que foge de  controle
e me consome demasiadamente
corpo e mente.
Não.
Eu quero você
De forma muito consciente.


Bem maior

Entre frustrar-me,  e ser apedrejado,
prefiro a vida.
Ainda que me acusem de covardia.
Porque enquanto vivo eu estiver,
mesmo que na masmorra,
ou na forca, na iminência do fim,
estarei arquitetando planos de reação.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Tico-tico
Coisa mais insolente
Esse tico-tico
 a cantar desse jeito.
Será que não vê nos meus olhos
a tristeza a sangrar meu peito?

Mal amanhece o dia
Fica nessa cantoria
A tripudiar de meus ais.

Sorte dele eu não ter mais
O juízo da meninice
Um bodoque, uma capanga,
uma boa baladeira
uma pedra ligeira
logo acabava com isso.

Mas sendo eu rapaz feito
Vejo que o melhor jeito           
É fazer-lhe uma proposta.

Proponho ao tico-tico
Que ao menos por um pouco
Troquemos de posto.

Então me ponho a cantar
Alegre, despreocupado
No alto de uma mangueira
Mas tico-tico menino
Em alegre desatino
lança mão da baladeira.

Pode ocorrer de ser penso o que penso e, assim sendo, propenso a ser repensado.

Se acaso desejas uma relação duradoura com alguém
procure não o conhecer profundamente.
Saiba apenas o essencial.
Se assim não for, certamente, a investigação, revelará “defeitos” desse alguém que,
aos teus olhos, serão imperdoáveis.
“Defeitos“ que, se permanecessem ocultos, talvez não fizessem
a menor diferença.
As pessoas têm muita dificuldade de aceitar naturalmente
as características individuais dos outros, e estão
sempre convictas de seus pensamentos e conceitos para mudar de ideia.
A intransigência, e a dificuldade em aceitar os “defeitos” dos outros,
Leva os indivíduos ao isolamento e, conseqüentemente, salvo em raras exceções, à amargura e infelicidade

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Existem ocasiões em que as respostas se antecipam, e a gente tenta encontrar as perguntas para que possa entender nossas reações. (JMAN)

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Existe no interior de cada um de nós uma fonte de energia inesgotável. É de lá que vem a força de superação. Nos momentos de tristeza, procure-a. Ao encontrá-la(e você vai encontrar) abra as comportas. (José Maria Alves Nunes)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Contrariando o ditado

Agarrado às claves, já em meio ao paredão, um homem em fuga olhava pra baixo e via uma enorme boca faminta, aberta, desejando ardentemente lhe abocanhar.  Apressou a escalada rumo ao topo sem saber o que lhe esperava lá em cima. Na cabeça apenas a convicção de que, às vezes, contrariando o ditado, é melhor optar pelo duvidoso.(JMAN)

sábado, 25 de junho de 2011

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Dor de ausência

Coisa mais aguda
Essa dor de ausência
Deve ser das dores;
a essência
pura,
genuína
a mais fina.
Tudo vai se esvaindo
em gotas
lentamente
amiudando a gente
impiedosa
intermitente.
Pior ainda se essa dor
é dor de amor, ausente.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Há bem pouco tempo, atropelando algumas resistências próprias, eu recorria aos poucos amigos e abusava deles nos momentos de angústia, incerteza, e melancolia. Agora não mais, decidi poupá-los do dissabor de minhas mazelas emocionais.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Conclusões

Mas afinal
O que diabos é o bom senso?
Bom senso é uma luz amarela que sempre se acende
Exigindo o uso de freios
e o retorno dos sentidos às suas bases consideradas normais,
Para acabar com a festa usa, geralmente, um balde de água gelada.

Armação
(José Maria Alves Nunes)

Coração e mente
nunca se entendem.
Parece conluio
pra confundir a gente

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Bucólico

A brisa mansa, o vento sul
e algumas nuvens cinza
anunciam mudança do tempo.
Um canário solitário canta lá fora.
E agora, as primeiras gotas de chuva caem no telhado.

Uma rede branca se oferece na varanda
e o meu corpo cansado, quase morto
rende-se ao conforto.
Refestelado, observo a gota cintilante, oscilar na cumeeira
até despencar incontinenti de encontro a terra
que ao sorvê-la, feliz, exala seu melhor perfume.

Um bem-te-vi pousa na mangueira
E o seu pio estridente desvia meu pensar.
Neste momento, vindo lá de dentro,
um aroma de café mistura-se ao da terra
e assim, calmamente o dia se encerra
entregando-me sonolento aos braços da noite.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A dureza da vida me ensinou a aprofundar as raízes, e agarrar-me bem às claves. Além disso, tenho ótima vergadura. Não é qualquer ventania que me desapruma. (José Maria Alves Nunes)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Missão

Confiaram a mim, soldado de verdades irrefutáveis,
indeléveis pontos de vista, e fidelidade canina,
a árdua tarefa de lhe acordar.
Bem sei de ti, adormecida, ao longo dos anos
alheia a todos os acontecimentos,
Mas hei de içar-lhe desse marasmo
usando as armas de que disponho:
meus berros, mãos-de-ferro, e sonhos.

Dedicar-me-ei à luta, feroz e inclemente,
Incansável e até, por vezes, um tanto quanto insolente,
Filho da puta.

Nos intervalos das batalhas
Há de ser me concedido um indulto
Para poder acender um cigarro,
ainda que de palha,
e me perder em pensamento observando as expirais
Até que elas se dissipem ao vento
Assim como as tuas dúvidas
quando enfim eu atingir meus ideais.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Inocência

Perdão!
Pelos palavrões, e xingamentos
que não sussurrei aos teus ouvidos
Por não ter empregado violência
pela falta de ardência,
e de imaginação.

Perdão!
Pela delicadeza dos gestos,
pela ausência de força
pela suavidade, e nada de vadiagem
Quando tudo que você queria
era que eu fosse um pouco mais selvagem

Perdão!
Pela falta de atitude
Por não ter sido rude
E por não ter percebido tudo isso antes.
Porque se assim fosse
talvez continuássemos amantes

domingo, 8 de maio de 2011

Aquele que posso ser

Os homens que se escondem atrás de mim
na escuridão,
no breu de minha inconsciência,
são diversos.
E eu sou um só, homem
nada controverso.
Ou não
tudo é tão relativo neste universo.
Seria possível ser eu o incorrigível
o intolerável, o abominável,
o depravado, o indecente
ou qualquer desses outros?
Não!
Tenho certeza.
Eu sou apenas aquele que se adequou às regras

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Peso morto

Como a um fardo
Hás de me carregar vida a fora.
Um castigo
pelo descuido que permitiu
nossos caminhos se cruzarem.
Ou julgas, porventura,
Que nosso encontro foi obra do acaso?
Não importa.
Hás de me carregar como cruz
A pesar sobre tuas costas
Sem trégua, todo tormento,
nenhum alento.
E na hora derradeira
Quando enfim seu corpo roto
Tombar inerte e frio
Vai lastimar profundamente ter vivido
A vida inteira a me levar aonde fosse
Sem, entretanto, nunca ter me possuído

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Fixação

Passa o tempo
Sopra o vento
Cai a folha.
Desgasta-se, e envelhece o invento
Mas não meu pensamento.
Até tento tirar você da memória
Viver uma nova história
Mas sempre volto ao mesmo ponto.

Passam as horas
Senhoras de si, e ignoram
A minha busca insana.
Sem nenhuma piedade
Demarcam as linhas de meu rosto
Desdenham de mim
E se repetem, impunes
Nunca envelhecem, enquanto tecem
meu fim.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Fecundo

Era pra ser só um raio
Anúncio de chuva passageira.
Mas o meu corpo,
esse estranho universo,
Rio raso,
poço fundo,
mar aberto, pediu mais
Então veio a fúria das águas
saciou a sede da terra
e fecundou todos os mananciais

domingo, 17 de abril de 2011

A lerdeza da Pátria
(Gabriel Campos Neiva e José Maria Alves Nunes)

Auriverde pendão que nunca amadurece,
até quando vamos aturar essa vil realidade
que ao teu povo tão profundamente entristece?
Talvez me queira esbravejando,
a gritar palavras de ordem
contra todos os desmandos, abusos
porque enquanto teu povo padece e morre à míngua,
cego e amordaçado com pano embevecido de líquida ignorância,
os teus outros filhos, os magnatas, cheios de ganância,
protegidos por fortes couraças,
escondem-se por trás da densidade de tuas verdes matas,
e de lá lançam leis, regras, bravatas,
impropérios em cascatas
formando o mar de lama
onde teus filhos deserdados se afogam.
Já que és mãe, e és gentil
vamos bradar pelos mendigos desvalidos
Socorra teus filhos, honre teu nome
Antes que todos eles sejam vítimas fatais da fome

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A alma faminta

 É tarde. Já passam das três da manhã de acordo com o velho “duas setas” pendurado à parede. Mas alguém - certamente muito inconveniente-, insistentemente, bate à porta. Ele resmunga para si mesmo a perguntar se aquilo era hora de alguém perturbar o sono de outro alguém.
Um sujeito que se sujeita a tamanho atrevimento deve, no mínimo, ter como desculpa o mundo estar pegando fogo. É a única justificativa plausível para cometer tamanho desatino.
Quanto desaforo havia naquele ato infame. E, mais ainda, devia ser gente bem conhecida, pois as batidas eram na porta da cozinha, por onde só entra os mais íntimos da casa.
- Já vai, caramba! É pra ir tirar a mãe na forca? Que chatice – resmungou ele.
Mas ao abrir a porta não detectou a presença de ninguém.
-Ah se eu pego o vagabundo que se presta a um serviço desse.... Fila da puta! Vai caçar o que fazer!
Era a quinta vez que Theodoro, o velho ermitão da Rua Visconde de Cabo Frio, repetia o ritual. E todas as vezes, mal voltava pra cama, novamente as batidas se repetiam.
Desta feita, cansado de tanto deitar e levantar, decidiu dar um basta àquela brincadeira de péssimo gosto. Abriu mais uma vez a porta e, nada constatando, decidiu esconder-se atrás do tronco da velha amendoeira que fazia sombra no quintal e de lá ficar espiando.
- Esse desgraçado vai me pagar caro por conta dessa brincadeira. Não quero nem saber quem é – dizia ele -. E decidido, armou-se de um velho pedaço de madeira, de tronco de aroeira, e atento - praticamente sem piscar olhos - ali ficou à espera de tão abusado vagabundo.
Não tardou e novamente ouviu o barulho na porta. Entretanto, para sua surpresa, embora apurasse as vistas na tentativa de enxergar, nada via.
- Cruz credo! Vá de retro!
Crente, e temeroso das coisas do além, começou a fantasiar mil histórias. Lembrou-se do tempo de menino. Os causos de assombração. De mula sem cabeça. Enfim... e ficou ali paralisado até finalmente pararem as batidas na porta. Era noite de lua nova, e o breu predominava. Pé ante pé voltou para o interior de sua casa, e não mais dormiu aquela noite. Assim, viu raiar o dia.
- Que sono! Mas tenho que cuidar da vida. Tenho muitas coisas a fazer. Mas em primeiro lugar tenho que ir à capela, rezar... ora veja! agora me aparece até assombração. Valha-me Deus!
E não tendo outro jeito, levantou-se. Escovou dente. Lavou rosto, e depois se dirigiu à cozinha para tomar o café da manhã.
Abriu a tampa do fogão e apalpou o espaço do forno. Estranhou não estar ali o restinho do queijo que guardara.
- Estranho! Tenho certeza que guardei aqui.
Evitou olhar a porta. Assim, nem percebeu que havia no cantinho inferior dela um buraco de tamanho mínino. Apressado, resolveu não fazer café. Vestiu o velho camisão preto que lhe batia o calcanhar e saiu para ir à capela rezar pela alma faminta.

quinta-feira, 7 de abril de 2011


Instabilidade

Sua presença já não provoca em mim o alvoroço de antes. Já não tenho aquelas tremedeiras nas pernas, o baticum no coração, nenhum sinal de suor nas mãos. Nada. Consegui, enfim, tomar as rédeas e controlar as reações que me assomavam toda vez que ouvia tua voz, ou mirava teus olhos. É verdade. E quer saber mais? Às vezes rio, quando me pego a pensar o que tanto me impressionava em você. Penso que era algo físico, porque fui recobrando minhas faculdades à medida que ia te conhecendo.
Bom, mas o importante é que  recuperei minha razão, e controlo o turbilhão de emoções que me desencadeava toda vez que te via ou pensava em você, e me impedia de reparar teus defeitos. E você os tem. E como tem. E assim, posso avaliar melhor tudo isso.

Talvez tenha sido fantasia todo aquele sentimento. Quem sabe foi uma empolgação juvenil causada pela intensidade da beleza do azul de teus olhos que mais parecem o céu de tardes de verão?! Não sei. Minha certeza hoje se resume em saber que o fascínio que sua figura me impunha, embora ainda exista, não é mais algo sem cabresto, que ao menor sinal desembestava, sem controle.
 Controlados os impulsos para os quais as emoções me empurravam, consigo enxergar sua figura como um ser humano normal. A diferenciar dos outros, apenas esse jeito de me olhar que, por vezes, ainda me faz sentir presa acuada, prestes a cair em uma armadilha, ou cair nas tuas garras de caçador, e me submeter às tuas vontades, aos teus caprichos, nos limites territoriais de teus domínios.
Confesso que ainda me atrai esses seus olhares de cobiça. Essa certeza que você deixa transparecer de que eu sou o rio, e você o mar imenso, meu destino, onde chegarei, por mais que eu dê voltas, prolongue o caminho contornando montanhas, despencando em cachoeiras, formando lagos, lagoas, me dividindo em braços, riachos, igarapés...
Você é assim; como o mar, nada parece abalar sua certeza. E enquanto eu luto para conter as reações, você vai se fartando com as águas de outros rios.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Desapropriação
E quando dei por mim tu estavas fazendo aceiros e fincando estacas a demarcar espaços no meu coração.
Chegou sem nenhum aviso. Ignorou completamente todas as placas de “É proibido”. Adentrou e se instalou. Classificando sentimentos, monopolizou o amor.
Apossado. Editou leis estapafúrdias, decretos ditatoriais, portarias escravocratas e ordens de serviço de toda ordem. Com bravura, impôs limites, proibiu a caça, a pesca. Fixou placa de “propriedade particular”. 
Ocupou todos os pontos cardeais. Fez da área um grande latifúndio. Edificou casa, mil janelas, no lugar mais nobre. Escreveu endereço em placa de cobre e pendurou na cancela.
Percebeu todos os mananciais que antes banhavam minhas entrâncias cordianas e que foram assoreados por falsos amores. Recuperou riachos, mansos regatos, cachoeiras, rios e mares. Fez reflorestamentos, exterminou erosões e trouxe de volta os passarinhos.
Mestre em agronomia, fez uso de técnicas de hidroponia, irrigou trechos áridos e, assim, transformou ares e hectares.
 Nos vastos jardins, sem uso de agrotóxicos, exterminou ervas daninhas, cultivou amor agarradinho, amor-perfeito, bromélias, margaridas. E na quinta muitos pés de ata, só porque sabia ser minha fruta preferida.
Eu de cá só observava você mudar as paisagens; vi abrir estradas vicinais que te levavam para os mais recônditos recantos; vi formar jardins coloridos e perfumados às margens de lagos de águas cristalinas, vi recuperar bosques...
Nada fiz para impedir seus avanços. Hipnotizou-me o mar verde-azulado represado em teus olhos, mistura de céu e floresta. Não tive forças pra resistir à tua beleza, teu entusiasmo, enfim... Entreguei-me.
Vamos ver no que dá.

sábado, 2 de abril de 2011

Almas

Tantas almas há em mim:
Á tímida
A boa
A má
A tranqüila
A abnegada
A afoita
A desesperada...
E cada uma delas cheia de razão
Aponta umas às outras
Culpadas pela minha solidão
Imagem e poesia

No céu de azul indecifrável
Abrindo as asas sob o sol
Plainam gaivotas
Devotas de Copacabana
Lírica imagem
Aos olhos de quem ama.
O clima é bem propício
a surgir novos Vinicius,
Drumond’s, Tons,
Chicos, Caetanos,
Gênios.
Quem se atreve?
À procura de Pasárgada
(José Maria Alves Nunes. Inspirado em “Vou-me embora pra Pasárgada – Manoel Bandeira)

Um dia, hei de encontrar Pasárgada
a cidade encantadora do Bandeira
e lá fincar meus pés
como um elegante pé de bananeira.
Serei árvore, em meio ao tempo, ali, largada
sob o céu de límpido azul
ponto de pouso de toda a passarada.
Não vou querer as prostitutas bonitas
nem as putas ordinárias, acaso encontre,
para não provocar ciúmes.
De Pássargada, apenas a paz, vou querer
e Rosa, também hei de encontrar
quiçá numa animada roda de samba
contando estórias,
entre meia dúzia de amigos.
Lá, com certeza, apago da memória
as lembranças de um amor perdido

sábado, 26 de março de 2011

"Artistas", calem a boca!

Lamentável que em pleno Século XXI ainda existam pessoas no Brasil, capazes de expressar opiniões tão absurdas a respeito de crenças, origem, sexo, enfim.. .

Primeiro, um dos integrantes do “Restart”, do alto de sua sapiência, agride todo povo do Amazonas quando, reconhecendo sua própria ignorância, diz não saber se existe civilização naquele Estado.


Agora foi a vez do “grande” ator Marauê Carneiro falar mal do Piauí. O que será que passa na cabeça desses “artistas”?


Muita gente, a verdadeira gente brasileira, ficaria grata, se artistas desse quilate guardassem suas brilhantes opiniões para eles mesmos, ou então para as pessoas com as quais convivem no mundinho particular, medíocre e limitado, no qual vivem.


Às vezes tentamos nos blindar, ou os ignoramos, fazendo “ouvido de mercador”, porque sabemos que o crédito desses pretensos artistas junto às pessoas que realmente importam é muito pequeno, mas outras vezes...


A verdadeira classe artística sabe de quem falo.


(José Maria Alves Nunes)

sexta-feira, 18 de março de 2011

Inverso

Quanto mais caminho em sua direção
menor te vejo.
Receio chegar ao ponto onde você vai desaparecer completamente.

sábado, 5 de março de 2011

O mar

E quando me vi frente ao mar
Ele se fez caminho
Azul, largo, denso
Aberto
E convidou-me a seguir
hesitei, mas fui
e nunca mais me perdi
de teus olhos

                 Porto Seguro, março 2011

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Meu tempo

Eu não gosto do tempo dividido
Fatiado.
Em pedaços.
O meu segundo
É o tempo que tenho pra ficar no mundo.
Não me determinem tempo
para o realizar, para o fazer.
Tenho todo tempo para dispor como quiser
entre o nascer e o morrer
Portanto, não me digam de meu tempo
Se curto ou longo,
meu tempo é inteiro
O meu tempo é um só
indivisível

Eu sem você

De que me adianta agora ter às mãos todas as estrelas
Se não tenho mais você para recebê-las?
Todo esse azul, esse sol, os matizes florais
Os aromas matinais
Esse coral de passarinhos, para quê?
Se não tenho mais você.
Nada faz sentido se não estás
Tudo é deserto, vazio
O que me sobra é o cio, só
Esse fogo incontrolável que se alastra
Por toda minha pele, à minha revelia
E que me deixa assim, sem reação.
Se não tenho mais você para recebê-las
De que me adianta agora ter às mãos todas as estrelas?

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Vilarejo

A amplitude de seus braços
abarca meu corpo
mas não aplaca meu cansaço.
Assim como teus beijos
embora cálidos
não saciam meus desejos.
Então padece meu corpo, imerso
quase morto, nesse vilarejo
que é seu universo